Durante toda
esta semana tenho ouvido o barulho dum comboio que passa perto da nossa
"Casa de oración", em Tlaquepaque, um bairro periférico de
Guadalajara. Não sabia que era "la bestia", o tristemente famoso
comboio da morte, que atravessa o México do sul ao norte e que constitui para
milhares de pessoas o transporte rumo ao "sonho americano".
Dizem as estatísticas
que um destes comboios pode transportar entre 1.000 e 1.500 migrantes,
naturalmente todos ilegais. Sobem enquanto o comboio está a correr e ficam ou
sentados ou pendurados entre duas carruagens. Em ambos os casos a posição é
muito incómoda, e é por isso que a primeira regra que um viajante clandestino
deve aprender é: "não dormes". Não só porque se pode cair por distração
ou por cansaço, mas também por causa de muitos outros perigos: assassinos,
atacantes, narcotraficantes, grupos armados, estupradores, policiais corruptos,
etc.
Ontem fomos visitar um destes 69 centros espalhados pelo território nacional, a “Casa del migrante” que se encontra na paróquia de “Nuestra Senhora del Refugio”, em Tlaquepaque, Guadalajara. É um centro modesto, que acolhe diariamente cerca de 40 migrantes (com picos de 300 e até mais) e oferece todos os dias 120 refeições aos pobres da paróquia (sobretudo meninos de rua e idosos). O centro vive exclusivamente de providência. O p. Alberto, pároco e responsável do centro, contou-nos muitas histórias tristes de pessoas que passaram nesta casa, mas também partilhou connosco a sua alegria de constatar que toda a paróquia está envolvida e colabora nesta obra de solidariedade. É a sua maior consolação.
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