terça-feira, 29 de março de 2011

Ao lado dos oprimidos

A Igreja sempre lutou pela defesa dos direitos humanos, pela justiça e a paz no mundo. Logo depois da Concílio Vaticano II, o papa Paulo VI fundou o “Pontifício Conselho Justiça e Paz” cuja missão é de promover a dignidade da pessoa e os seus direitos, como também defender os oprimidos, independentemente da sua raça, cultura e religião. Em 2004, os bispos da nossa região fundaram a Comissão Episcopal Interterritorial Justiça, Paz, Direitos humanos e Desenvolvimento, com sede em Dakar, que coordena e fornece assistência técnica as comissões diocesanas de Senegal, Mauritânia, Cabo Verde e Guiné-Bissau.
Na Guiné-Bissau, a Comissão Inter-diocesana homónima existe desde o inicio de 2007.  Nela, nós os franciscanos estamos bem presentes com fr. Michael Daniels (coordenador) e eu mesmo. Nestes quatro anos, a maior parte do tempo foi dedicada a formar os membros internos da comissão e visitar os sectores pastorais e as paróquias para tentar instituir as comissões “Justiça e Paz” locais. Actualmente estamos na fase da divulgação de um Plano Trienal, elaborado pela comissão episcopal em finais de 2009, que envolve todas as oito comissões diocesanas existentes na sub-região (sete no Senegal e uma na Guiné).
É neste quadro que recebemos, na semana passada, a visita do P. Alphonse Seck, Vigário Geral da diocese de Dakar e secretário executivo da Comissão Episcopal, que veio nos apresentar as actividades previstas para este ano. Durante os cinco dias que ele ficou connosco, teve encontros com os representantes das comissões paroquiais da diocese de Bafatá (quinze participantes, entre os quais D. Pedro Zilli, bispo de Bafatá) e com os da diocese de Bissau (cerca de cinquenta pessoas).
Eis a impressão de alguns dos participantes:
- O encontro foi muito bom, a explicação do padre claríssima (Bafata)
- Impressionou-me a simplicidade e a clareza dos temas apresentados (Bissau)
- A exposição foi simples, clara e pertinente. A minha preocupação e desejo são de ver posto isto na prática na nossa paróquia e no país (Bissau).
É também o nosso desejo como comissão inter-diocesana. 
Encontro do P. Alphonse Seck (3°  a contar da esquerda) e ir. Jeannette (5a ) com a sociedade civil, em 2010

terça-feira, 22 de março de 2011

The Holy Trinity catholic community



No domingo passado, cinco grupos da paróquia fizeram o seu retiro de quaresma. Entre eles a comunidade anglófona (ou melhor, the Holy Trinity Catholic community). Esta comunidade surgiu em 2007 pelo desejo do nosso bispo, D. José Camnate. Já existia uma comunidade para os cristãos de língua francesa (la communauté francophile), mas não havia nada para os anglófonos. Agora já lá vão quatro anos que a nova comunidade está de pé. Os membros que a compõem são sobretudo nigerianos e liberianos, sendo os outros países (Gana, Gâmbia, Serra Leoa) pouco representados.
É preciso dizer que é uma comunidade muito heterogénea, com pessoas vindas de todas as partes, com historias muito diferentes. Eu – às vezes – me pergunto como uma comunidade tão variada pode continuar junta: funcionários das Nações Unidas, comerciantes de bebidas, de peças de carro, barbeiros de rua, vagabundos sem emprego fixo, desempregados com pouca vontade de trabalhar…
O ponto de referência da comunidade anglófona é a paróquia de S. João Baptista, em Brá/Bissau. Temos a celebração eucarística todos os domingos, às 11h30, em inglês naturalmente. Os hóspedes são bem-vindos! Para quem quer saber mais, o nosso contacto é Pascal Dimex, tel.: 6623461.
Come! You are welcome in our church!

O retiro de quaresma, no centro de espiritualidade da diocese


sexta-feira, 18 de março de 2011

A Costa de Marfim na tormenta


A Costa de Marfim está a passar um periodo muito critico da sua historia. Desde Dezembro ultimo ela está a viver com dois presidentes (L. Gbagbo e A. Ouattara), dois governos, dois exércitos e um país dividido em duas partes. A confusão é total. Nesta incerteza, as duas partes estão a armar-se na expectativa do pior.
Assim, nalguns bairros periféricos da capital, Abidjan, há choques frequentes entre as forças lealistas do presidente Gbagbo (FDS) e grupos de revoltosos ligados a Alassane Ouattara (conhecidos como o “Commando invisível”). Entre os bairros mais “quentes”,  há Abobo e Anyama, onde muitas pessoas já fugiram as suas casas, refugiando-se em zonas mais seguras do interior. Também os nossos frades estudantes de teologia, que estavam em Anyama, foram obrigados a fugir e se encontram actualmente no Togo. No entanto, os confrontos continuam e já se fala de 200.000 pessoas que abandonaram estes bairros periféricos da capital.
Um nosso jovem confrade escreve: “Où va-t-on avec cette crise? Pour un fauteuil présidentiel était-il nécessaire d'en arriver là? La Côté d'Ivoire pleure…”
 Nós também estamos a chorar com ele.



quinta-feira, 17 de março de 2011

Um novo grupo musical: Familia de Deus


Conhecem os “artistas da nova geração”? São jovens músicos da Guiné-Bissau, ainda pouco conhecidos, mas com pretensões de tornar-se um dia famosos, se Deus quiser. Fazem musica de todo o género. Entre eles há também quem faça música religiosa, como por exemplo, o Ico (Francisco) e o muito conhecido Filomeno Lopes, que é também jornalista da Rádio Vaticana.
Nestes últimos tempos, uma nova obra apareceu no mercado: “Bo fia na Deus”, da autoria do grupo “Família de Deus” (data: Novembro 2010). São doze cânticos para a celebração eucarística, todos originais, de jovens seminaristas e leigos das duas dioceses: Paulo, Mário, Díngana, Hélder e Victor (seminaristas maiores diocesanos), fr. Benício (franciscano OFM), e Filomena, Windjaba, Maimuna, Sunhi e Sancá. Parece que as 270 cópias do CD que foram lançadas no mercado já acabaram. Sinal que a obra está a ser apreciada. Parabéns, irmãos e irmãs músicos. Que Deus vous abençoe!


segunda-feira, 14 de março de 2011

A historia da Sra. Olimpia


Às vezes, descobrimos pessoas maravilhosas perto da nossa casa, no nosso bairro. Estão a fazer coisas fantásticas sem fazer barulho, simplesmente procurando pôr em pratica o Evangelho. Uma dessas pessoas é a Sra. Olímpia.
Ela é da minha paróquia e participa regularmente da missa, todos os domingos. Mas até alguns meses atrás eu não conhecia quase nada da sua vida privada. Eis aqui a sua história. 
Ela cresceu num orfanato para meninas, dirigido pelas Irmãs Franciscanas, em Bôr, uma pequena aldeia perto de Cumura. Estudou para ser mestra de escola primária. Tendo acabado os estudos, ela começou imediatamente a ensinar (ainda está a fazê-lo). No entanto, ela casou com um oficial do exercito, que mais tarde seria nomeado Chefe de Estado Maior das Forças Armadas. O seu nome: Veríssimo Correia Seabra. Tiveram uma filha, que actualmente vive na França e já está casada e tem três filhos. Ele foi assassinado em 2004, durante uma rebelião no seio das forças armadas. 
Olímpia ficou profundamente marcada pela morte do seu marido, que ela amava muito, mas não se rendeu. Enquanto o seu marido estava ainda de vida, ela tinha começado a receber na sua casa órfãos de famílias pobres da sua zona. Ela continuou a fazê-lo mesmo depois da morte do seu marido. Eles davam-lhe força para continuar a acreditar no amor de Deus e na vida.
Ela tem actualmente quinze órfãos na sua casa, vindos de diferentes famílias. Ela salvou-os da fome, das doenças e, provavelmente, da morte. O maior tem 20 anos, o mais novo 3. Quase todos frequentam a escola, excepto os mais pequenos, porque o pobre salário da Sra. Olímpia não permite de pagar a escola para todos. 





Como nasce uma capela


Na minha paróquia há cinco comunidades, cada uma com a sua história e as suas particularidades. Entre elas, Plack-1, uma comunidade muito viva e dinâmica, situada numa zona muito pobre da capital. Até agora celebrávamos a s. Missa numa barraca de “quirintim” (= bambu), construída num terreno que era do Estado.

A capela de "quirintim"

No ano passado a Câmara municipal nos pediu para “desmobilizar”, só que nós não tínhamos ainda um novo terreno. Recentemente acabámos a compra do terreno (quatro talhões), que nos custou enormes sacrifícios e cinco anos de negociações!
Este terreno está ainda por nivelar e tem uma ligeira inclinação. No entanto, a comunidade decidiu começar imediatamente a obra de construção com os poucos meios à disposição. Eis aqui os nossos jovens voluntários a desbravar, cavar, tomar medidas, trazer pedras, cozinhar, etc. É um trabalho absolutamente voluntario, ninguém é pago, a única coisa que é dada é a comida. Não sabemos ainda se iremos acabar a obra antes do início das chuvas (no mês de Junho). Mas a fé e a boa vontade dos nossos cristãos são tão grandes que com certeza iremos conseguir!
Os jovens voluntarios da comunidade cristã
As fundaçoes da futura capela

Chegou a quaresma

Quaresma: quarenta dias de penitência para lembrar o retiro de Jesus no deserto, durante quarenta dias, e a sua luta contra o demónio. Para nós os cristãos a Quaresma é um "tempo forte", um tempo de luta espiritual contra os nossos vícios e pecados e de oração mais intensa, de escuta da Palavra de Deus, de partilha com os mais necessitados. Numa sociedade permissivista como a nossa a Quaresma parece uma prática sem sentido, ultrapassada e antiquada. No entanto, este é um caminho privilegiado para entrar em contacto com Deus, (re)descobrir o valor único da sua Palavra, fazer-se próximo dos nossos irmãos pobres e marginalizados. 
Entre as outras práticas de piedade há a "Via sacra" ou "Caminho da cruz", tão amado pelos nossos cristãos que, quando não conseguem participar, vem confessar-se deste pecado!



quarta-feira, 9 de março de 2011

O toca-toca dos cristãos

Vladimir (Vla), o nosso condutor (a direita)
A gente diz que o nosso transporte publico é o "toca-toca dos cristãos", porque a atmosfera no interior do meio é diferente: musica suave, imagens de S. Francisco e S. Clara nas paredes, condutor e cobradores simpáticos. Os nomes dos nossos funcionarios são: Vladimir Silva Alves da Veiga, mais conhecido como "Vla" (é o condutor) e Midana e Baba (cobradores). E possível reconhecê-los logo na estrada: cara sempre sorridente, infatigáveis, membros da JUFRA.

Numa rua de Bissau
Midana (cobrador)

terça-feira, 8 de março de 2011

Viva a JUFRA !


A palavra JUFRA significa “Juventude Franciscana”. São jovens que querem viver o Evangelho de Jesus em simplicidade, alegria e fraternidade seguindo os passos de Francisco e Clara de Assis. No ano passado, 57 rapazes e raparigas da nossa paróquia (S. Jo ão Baptista-Bissau) fizeram a sua “promessa” de vida evangélica-franciscana. Um outro grupo de “aspirantes” está a preparar-se para este compromisso de vida.
Isto significa que Francisco e Clara são ainda hoje de grande actualidade e continuam a fascinar os jovens do nosso tempo, justamente como no seu tempo. Os nossos “jufristas” já têm a sua sede (ver fotografia), um programa formativo muito bem feito, e j á começaram a ajudar na paróquia (trabalhos de limpeza, visita aos presos).

segunda-feira, 7 de março de 2011

Ainda o carnaval

Acho importante voltar a tratar o tema do carnaval. Não tanto do ponto de vista histórico ou cultural, mas como uma manifestação de genuína fraternidade e de partilha entre grupos étnicos nacionais. Os nossos adolescentes e jovens conseguiram, com poucos meios mas muita fantasia, apresentar danças de todos os principais grupos étnicos do país (Mancanhas, Manjacos, Balantas, Pepeis, Felupes, Bijagós, Fulas, Mandingas) e uma peça teatral sobre o tema da corrupção.
Não houve classificação final, nem prémios a distribuir, mas mesmo sem este estimulo, os diferentes números foram apresentados com empenho e seriedade. Os nossos jovens estão de parabéns.

Rainha da paz




domingo, 6 de março de 2011

Carnaval, que paixao!

O carnaval foi importado na Guiné-Bissau pelos portugueses, na época colonial. Com o passar do tempo, ele tornou-se o evento cultural mais importante do paìs, celebrado durante quatro dias (de sabado a terça-feira). A Igreja catolica da Guiné também organiza também o seu carnaval nas paroquias, nos sectores pastorais, nas escolas, etc.
Ontem, foi celebrado o carnaval do Sector pastoral de Bissau (que compreende oito paroquias da cidade, mais a de Bubaque), num terreno vago perto da sede da televisao nacional. Foi, mais uma vez, uma festa de cores, danças, musicas, peças teatrais, de sao divertimento, de alegria. Um momento de fraternidade.


Eis algumas fotografias a testemunhar a atmosfera magica do nosso Carnaval sectorial.