domingo, 5 de agosto de 2012

Pierre, o difícil caminho da conversão



Conheço o Pierre desde sempre. Encontrei-o na MACA (= maison d’arrêt et de correction de Abidjan), a maior prisão da Costa de Marfim e provavelmente da África ocidental no ano 2000. Ele estava a descontar uma pena para assalto à mão armada. Tornamo-nos amigos. Aquando da sua saída, ajudei-o a encontrar um trabalho e um alojamento naquela cidade. Mas era extremamente difícil com aquele passado de delinquente a pesar sobre ele. Foi assim que abrimos juntos um “centro de acolhimento” para antigos presos, numa zona rural, onde eu tinha recebido alguns terrenos em usufruto.
Decidimos também fundar uma associação, que foi baptizada com o nome de “Fondation Djasso” (a palavra djasso em língua local significa “levanta-te”, “retoma o caminho”). Queríamos oferecer a possibilidade a muitos presos de levantar-se, de retomar o bom caminho.
Diante do centro de acolhimento da "Fondation Djasso"
 A experiência durou apenas dez meses, porque no entanto eu tinha acabado o meu mandato na Costa de Marfim e devia regressar a Guiné-Bissau.
Continuamos a ficar em contacto, embora - por parte de Pierre - fosse quase exclusivamente para pedir ajuda. Ele veio visitar-me duas vezes, em 2007 e duas semanas atrás. Em 2007, o seu objectivo era de ir à Europa. Eu devia arranjar-lhe um visto, coisa extremamente difícil para mim. A segunda vez, há 10 dias, veio para anunciar-me que queria mudar de vida. Estava a jejuar, como e com os muçulmanos (este é o mês do Ramadão), para mostrar que estava sinceramente arrependido e queria acabar com a sua vida de delinquência.
O seu esforço parecia-me sincero. Ele até me comoveu: comia muito pouco, dormia no chão. No domingo veio à missa connosco. A certo ponto, chegou a dizer que queria ficar aqui na Guiné, porque “se sentia à vontade connosco”, não queria voltar para “a sua velha vida de banditismo”.
O encanto durou menos de uma semana. Na 4ª-feira passada, ele desapareceu … levando o nosso aparelho digital. Tentei chamá-lo no seu móvel, mas sem resultado. Onde estará ele neste momento? A sua conversão era sincera? Terá ele a coragem de chamar de novo? Tantas perguntas, mas nenhuma resposta, por enquanto. Eu continuo a rezar por ele, para que ele encontre finalmente a paz e a estabilidade na sua vida.

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