Em África é quase impossível
ter uma justiça “justa”. Os tribunais são muito severos para com os pobres e escandalosamente
favoráveis aos ricos. E então, o que fazer? A tentação é de fazer justiça com
as próprias mãos. Como acontece um pouco em toda a parte onde a justiça não funciona.
A África não faz excepção. Na Guiné-Bissau eu ouvi de tantos casos de julgamentos
injustos que perdi toda a confiança na justiça do Estado. Para mim neste
país não há sequer justiça. A parte algumas felizes excepções.
Na aldeia de Quidé, onde
existe uma comunidade cristã ainda em gestação (não há nenhum baptizado), no mês
passado foi apanhado um ladrão, que vinha da aldeia ao lado. Tinha furtado
três cabras. A polícia apresentou-se para recupera-lo, mas a comunidade foi irremovível:
“O ladrão é nosso e vamos julgá-lo nós!” Outros não estavam de acordo e insistiam
que o ladrão devia ser entregue à autoridade, para que a justiça seguisse o seu
curso. A discussão acendeu-se. Os chefes da aldeia insistiram no seu direito de
julgar o jovem delinquente, citando outros casos de justiça “injusta” onde o ladrão
tinha fugido com a cumplicidade da própria polícia. Isto não devia repetir-se,
eles estavam cansados da justiça do Estado! Por fim, a polícia foi-se embora sem o jovem ladrão, que ficou lá na aldeia. Os anciãos convocaram imediatamente uma reunião, determinados
a conhecer o nome do cúmplice (ou dos cúmplices) e a decidir qual era a multa
que o jovem devia pagar.
O conselho da aldeia reunido em volta do ladrao (vindo da aldeia vizinha) |
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