segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Justiça popular



Em África é quase impossível ter uma justiça “justa”. Os tribunais são muito severos para com os pobres e escandalosamente favoráveis aos ricos. E então, o que fazer? A tentação é de fazer justiça com as próprias mãos. Como acontece um pouco em toda a parte onde a justiça não funciona. A África não faz excepção. Na Guiné-Bissau eu ouvi de tantos casos de julgamentos injustos que perdi toda a confiança na justiça do Estado. Para mim neste país não há sequer justiça. A parte algumas felizes excepções.
Na aldeia de Quidé, onde existe uma comunidade cristã ainda em gestação (não há nenhum baptizado), no mês passado foi apanhado um ladrão, que vinha da aldeia ao lado. Tinha furtado três cabras. A polícia apresentou-se para recupera-lo, mas a comunidade foi irremovível: “O ladrão é nosso e vamos julgá-lo nós!” Outros não estavam de acordo e insistiam que o ladrão devia ser entregue à autoridade, para que a justiça seguisse o seu curso. A discussão acendeu-se. Os chefes da aldeia insistiram no seu direito de julgar o jovem delinquente, citando outros casos de justiça “injusta” onde o ladrão tinha fugido com a cumplicidade da própria polícia. Isto não devia repetir-se, eles estavam cansados da justiça do Estado! Por fim, a polícia foi-se embora sem o jovem ladrão, que ficou lá na aldeia. Os anciãos convocaram imediatamente uma reunião, determinados a conhecer o nome do cúmplice (ou dos cúmplices) e a decidir qual era a multa que o jovem devia pagar.

O conselho da aldeia reunido em volta do ladrao (vindo da aldeia vizinha)

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