Cada vez, o
debate sempre se concentra no celibato
dos sacerdotes e no papel das
mulheres na Igreja. Como esperado, os nós da ordenação sacerdotal de homens
casados (viri probati) e da
atribuição de ministérios eclesiais oficiais aos fiéis católicos monopolizam o
confronto entre os 185 padres sinodais no sínodo especial dos bispos na Amazónia, agora em sua penúltima semana. Isso pode ser visto nos relatórios
oficiais das congregações gerais (nas reuniões de todos os membros da assembleia) e no sincero testemunho de bispos que se queixam de pressão, porque
a reunião limita o debate a viri probati
apenas em detrimento de outras questões decisivas, mesmo que menos mídia, pelo
menos no Ocidente. Em primeiro lugar, a necessidade urgente de implantar a
Igreja ao lado de missionários que, mesmo ao preço de suas vidas (1.200 mortos
apenas no Brasil, desde os anos 1980 até o presente), estão lutando para
proteger o meio ambiente e os índios.
Aqueles que
levantam a questão não são bispos hostis à ordenação de homens casados. Muito
pelo contrário, é uma questão de prelados no comando das dioceses da Amazónia,
que até apontam que a proposta está contida no documento de trabalho da assembleia, resultado de ouvir centenas de comunidades da floresta tropical. Ao
mesmo tempo, porém, eles levantam suas vozes contra pressões indevidas no
Sínodo, para que a questão absorva todo o debate. Por trás dessa atitude,
encontram interesses económicos daqueles que lucram com a exploração da Amazónia e dos nativos.
Na esfera
eclesial, é sobretudo uma parte da
Igreja alemã e americana que deseja bloquiar a viragem em favor dos viri probati, com medo de que a luz
verde dada na Amazônia também possa ser desencadeada em outros contextos
eclesiais. Da Alemanha, que em dezembro iniciará um processo sinodal, para a
Austrália, onde em 2020 haverá um conselho local após o escândalo de pedofilia
que condenou, tanto na primeira quanto na segunda instância, o cardeal George
Pell, ex-arcebispo de Melbourne e Sydney .
Padres
casados, mas não a tempo pleno. Esta é a solução prática que está amadurecendo
na sala e que deve (a menos que seja surpresa) fluir para as proposições finais
a serem submetidas ao Papa para uma decisão sobre o assunto, sem prejuízo da
natureza consultiva e não vinculativa do Sínodo dos Bispos. Assim, trabalhamos
com a hipótese de ordenar “casados de fé
comprovada” que, no contexto indígena, possam administrar os sacramentos
sob a supervisão de um pároco
celibatário.
Os novos presbíteros estariam em part time: continuariam seu trabalho como caçadores, pescadores ou camponeses. Em termos concretos, nada mais do que a proposta do bispo austríaco Erwin Krautler, missionário na Amazónia por mais de 50 anos, que ele próprio apresentou ao papa Francisco em uma audiência privada em 2014. Alguns padres sinodais levantaram as suas vozes contra os viri probati temendo uma degradação geral do celibato sacerdotal, além daqueles que consideram a questão de natureza universal e, portanto, que deve ser colocada na mesa de um próximo Sínodo geral ordinário. Alguns rumores indicam que o da agenda de 2021 está centrado precisamente nos ministérios.
No lado da participação feminina na vida da Igreja, uma passagem genérica parece ser dada como certa no documento final sobre a necessidade de designar ministérios oficiais leigos também para as mulheres. Esses seriam os papéis de acólito e leitor, mas o serviço de animador pastoral também poderia ser criado a partir do zero. De fato, já foi testemunhado várias vezes na sala, mulheres nas aldeias indígenas já prestam esses serviços. Agora é hora de reconhecê-los completamente. Surpreendentemente, no debate no Sínodo, o tema do diaconato feminino apareceu, com alguns padres expressando seu apoio. Para alguns, o caminho das diaconisas seria preferível em relação ao clero uxorato, também com o objetivo de evitar o fortalecimento da clericalização na Igreja. Tanto os viri probati quanto as mulheres mostram a vontade da Igreja de passar de uma pastoral da visita a uma pastoral da presença em uma região, a Amazónia, tão grande quanto a Austrália, onde a celebração eucarística em algumas aldeias é apenas a cada três quatro anos. Os dois argumentos entram totalmente na necessidade do povo de Deus de uma profunda inculturação do Evangelho na floresta fluvial (onde o celibato continua a ser visto com desconfiança) e no constante apelo do Sínodo a uma ecologia integral (proteção meio ambiente e justiça social).
Apelações e reclamações ressoaram na sala na defesa da criação nestes dias. Como a alerta sobre o cultivo crescente de coca, de 12 mil a 23 mil hectares, com efeitos devastadores devido ao aumento da criminalidade e à rutura do equilíbrio natural. Isso acaba contribuindo para a desertificação da Amazónia, objeto de incêndios criminosos e de políticas extrativas de tipo predatório. Uma conversão ecológica da Igreja que saiba reconhecer e condenar com decisão os pecados ambientais é pedida de muitos lados. No alvo o modelo liberal, criticado repetidamente pelo papa em sua encíclica verde, Laudato si ', a verdadeira magna carta da assembleia.
Artigo publicado originariamente em italiano com o título: "Sinodo Amazzonia, preti sposati sì ma part-time", acesso em: https://www.quotidiano.net/cronaca/sinodo-amazzonia-preti-sposati-1.4833851.