domingo, 15 de dezembro de 2019

Os malucos, meus irmãos

Mamadu, a lavar-se numa rua de Bissau
Nunca tinha reparado na quantidade de loucos que povoam as nossas cidades e aldeias. Cada povoação tem os seus, mas passam despercebidos, quase formassem parte da paisagem. Não incomodam muito, simplesmente estão lá, tornando a nossa vida quotidiana mais viva e colorida com a sua linguagem incompreensível, os comportamentos estranhos, as loucuras. Por outro lado, eles são temidos porque - no imaginário popular - considerados agressivos e violentos, embora não seja bem assim, como estudos muito sérios demonstraram.

A Noemi com uma curandeira tradicional
A Noemi, jovem psiquiatra italiana, nossa hospede durante este tempo de Natal, abriu os meus olhos sobre a existência destes nossos irmãos marginalizados pela sociedade. Descobri, graças a ela, que são pessoas que podem ser recuperadas (pelo menos em parte), se forem devidamente curadas. E sobretudo amadas. Porque são nossos irmãos.


Eu também comecei a interessar-me a eles, a conversar com eles, a tentar entender os seus comportamentos excêntricos, as suas "tolices". Frequentando-os, descobri que há vários graus de loucura e que todos eles tem momentos de lucidez em que é possível comunicar e entender-se. Até posso dizer que tenho alguns "amigos" loucos. Como o Mamadu, que vive nas ruas do centro-cidade. Posso dizer que agora ele é meu amigo, embora a nossa linguagem é feita apenas de apertos de mão e sinais. Ou o Carlitos, pelo qual conseguimos encontrar um quarto e agora ele é ao cume da felicidade e está a ter um comportamento mais aceitável.

Carlitos
 Pequenos passos. Tempo perdido, segundo alguns. Para mim, o reino dos Céus que avança. "A Boa-Nova é anunciada aos pobres" (Mt 11,5).

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