Na Ordem dos Frades Menores, o Secretariado de Justiça, Paz e
Integridade da Criação (JPIC) foi criado com a missão de despertar entre os
frades a consciência de que justiça, paz e ecologia fazem parte do
carisma franciscano. E como franciscanos são defensores da esperança, da
dignidade humana e da sacralidade de toda criatura, abertos ao
ecumenismo e ao diálogo com as culturas.
Os Estatutos Gerais da Ordem dos Frades Menores define a tarefa do
Serviço de Justiça, Paz e Integridade da Criação da seguinte forma: “A
principal tarefa do Serviço de Justiça, Paz e Integridade da Criação
(JPIC), sob a dependência do Ministro Geral é:
1. Cuidar que a JPIC faça parte da vida e da missão da Ordem, com a
cooperação dos animadores e das comissões de JPIC de todos os níveis,
colaborando com o Secretariado para a Formação e os Estudos e com o
Secretariado para a Evangelização.
2. Instruir os irmãos sobre questões relacionadas à JPIC.
Infelizmente há ainda muitos franciscanos que pensam que este serviço não seja uma dimensão fundamental do carisma franciscano, mas sim uma atividade reservada a poucos eleitos, idealistas e poetas que sonham um mundo utópico.
Não era este o pensamento de S. Francisco que não hesitava em intervir nos acontecimentos políticos do seu tempo (lobo de Gubbio, conflito entre o bispo e o podesta de Assis), convencido de que não há verdadeira fraternidade sem um claro compromisso político e ecológico.
O secretariado geral de JPIC tem a sua sede em Roma. Para mais informações contactar: www.ofm.org/jpic; pax@ofm.org. Existe também um boletim: CONTACTO, publicado em inglês, espanhol e italiano.
Sou frade franciscano, missionário na Guiné-Bissau desde 1993. Com este blogue quero informar sobre a vida nas nossas missões franciscanas espalhadas em África, em particular na Guiné-Bissau.
terça-feira, 17 de abril de 2018
domingo, 15 de abril de 2018
La72
No sudeste do México, muito perto da fronteira com Guatemala, encontra-se uma casa-refugio para migrantes cujo nome é La72. Foi fundada em 2011 por um franciscano, fr. Tomás González Castrillo, e até então já passaram por este centro pioneiro 50.000 migrantes. O nome do centro refere-se à descoberta, feita na localidade de S. Fernando (no estado de Tamaulipas, perto da fronteira norte do Mexico), de uma vala comum com 72 corpos de pessoas assassinadas pelo crime organizado em 2010. O nome do centro quer perpetuar a memória destas pessoas e de tantos outros migrantes que continuam a morrer na viagem para os Estados Unidos (que no imaginario comum é o “sonho americano”).
Fr. Tomas intervem no congresso de JPIC, em Guadalajara |
"La bestia" ou o comboio da morte
Durante toda
esta semana tenho ouvido o barulho dum comboio que passa perto da nossa
"Casa de oración", em Tlaquepaque, um bairro periférico de
Guadalajara. Não sabia que era "la bestia", o tristemente famoso
comboio da morte, que atravessa o México do sul ao norte e que constitui para
milhares de pessoas o transporte rumo ao "sonho americano".
Dizem as estatísticas
que um destes comboios pode transportar entre 1.000 e 1.500 migrantes,
naturalmente todos ilegais. Sobem enquanto o comboio está a correr e ficam ou
sentados ou pendurados entre duas carruagens. Em ambos os casos a posição é
muito incómoda, e é por isso que a primeira regra que um viajante clandestino
deve aprender é: "não dormes". Não só porque se pode cair por distração
ou por cansaço, mas também por causa de muitos outros perigos: assassinos,
atacantes, narcotraficantes, grupos armados, estupradores, policiais corruptos,
etc.
Ontem fomos visitar um destes 69 centros espalhados pelo território nacional, a “Casa del migrante” que se encontra na paróquia de “Nuestra Senhora del Refugio”, em Tlaquepaque, Guadalajara. É um centro modesto, que acolhe diariamente cerca de 40 migrantes (com picos de 300 e até mais) e oferece todos os dias 120 refeições aos pobres da paróquia (sobretudo meninos de rua e idosos). O centro vive exclusivamente de providência. O p. Alberto, pároco e responsável do centro, contou-nos muitas histórias tristes de pessoas que passaram nesta casa, mas também partilhou connosco a sua alegria de constatar que toda a paróquia está envolvida e colabora nesta obra de solidariedade. É a sua maior consolação.
quinta-feira, 12 de abril de 2018
Mexico, país de grande migração
Estou no México, precisamente em Guadalajara (a segunda maior cidade do estado), participando dum curso internacional de formação relacionado com as temáticas de Justiça, Paz e Integridade da Criação. O tema do curso é: "Migração, causas, muros e perspetivas franciscanas". Somos 57 participantes, religiosos e leigos da família franciscana, a grande maioria vinda de México e dos países vizinhos.
Até esta manha as exposições foram muito interessantes, mas também um pouco "académicas", teóricas. Mas hoje foi diferente com o fr. Tomas González a falar sobre o seu Hogar-refugio para pessoas migrantes La72, um lugar de hospedagem perto de Tenosique, no estado de Tabasco. Esta estrutura, criada pelo nosso irmão, acolhe neste momento cerca de 400 migrantes, sobretudo cidadãos de Guatemala, Honduras e El Salvador. Foi um testemunho muito forte, que nos tocou profundamente. Ele contou muitos factos incríveis, historias a arrepiar a pele; deu voz ao terrível sofrimento de tantas pessoas que são maltratadas, violentadas, torturadas só porque migrantes sem documentos.
Tudo isso, juntado com o filme Sin nombre (que vimos há dois dias) sobre o crime organizado e a emigração entre México e Estados Unidos, está a tornar este curso muito vivo e atual. E impulsiona-nos a tomar uma posição clara em favor dos migrantes de todos os países do mundo.
Até esta manha as exposições foram muito interessantes, mas também um pouco "académicas", teóricas. Mas hoje foi diferente com o fr. Tomas González a falar sobre o seu Hogar-refugio para pessoas migrantes La72, um lugar de hospedagem perto de Tenosique, no estado de Tabasco. Esta estrutura, criada pelo nosso irmão, acolhe neste momento cerca de 400 migrantes, sobretudo cidadãos de Guatemala, Honduras e El Salvador. Foi um testemunho muito forte, que nos tocou profundamente. Ele contou muitos factos incríveis, historias a arrepiar a pele; deu voz ao terrível sofrimento de tantas pessoas que são maltratadas, violentadas, torturadas só porque migrantes sem documentos.
Tudo isso, juntado com o filme Sin nombre (que vimos há dois dias) sobre o crime organizado e a emigração entre México e Estados Unidos, está a tornar este curso muito vivo e atual. E impulsiona-nos a tomar uma posição clara em favor dos migrantes de todos os países do mundo.
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