domingo, 28 de junho de 2020

Adeus, Filipe

O nosso amigo Filipe deixou-nos na noite de sexta para sábado.
As circonstâncias da sua morte estão ainda por esclarecer. Segundo as nossas fontes, foi atingido por um tiro de espingarda enquanto andava na escuridão perto da sua casa e abandonado no chão. Foi encontrado algumas horas depois, graças a um cachorro amigo que chamou a atenção da gente porque não se afastava do local. Tinha perdido muito sangue e não foi possivel salva-lo.
O Filipe não era um santo, muito pelo contrário , era um tipo perigoso, violento. Mas era doente mental e foi em momentos de raptus que ele tinha matado várias pessoas (pelo menos três), em momentos e circonstâncias diferentes. Por isso tinha feito vários anos de prisão, mas depois tinha sido libertado porque doente mental.
Nestes últimos anos morava em Quinhamel, onde a gente tinha aprendido a amá-lo e a respeitá-lo apesar da sua doença. Vinha todos os dias à nossa missao a procura de comida (o frei Michael costumava dar-lhe pão e as irmãs açúcar).
Graças aos cuidados da Noemi, uma psiquiatra italiana que passou alguns meses connosco como voluntária, estava a melhorar bastante. Ela mesma escreve: "Ele estava a mudar por dentro: graças à ajuda das pessoas que o assistiam, ele tinha conhecido o perdao de Deus e das pessoas em volta dele. E' um exemplo de pequeno renascimento."

Adeus, Filipe, não vamos esquecer facilmente o teu sorriso simpático, a linguagem estranha e o gosto da brincadeira.

quinta-feira, 25 de junho de 2020

Fr. Ernesto Bicego, uma vida para a missão

O fr. Ernesto Bicego é neste momento o missionário mais antigo da Guiné-Bissau, tendo chegado neste país a 28 de junho de 1967, juntamente com o fr. Silvano de Cao: 53 anos de vida missionária!
Nascido a 5 de agosto de 1941, ele vive atualmente na missão de Blom, onde é o diretor da escola católica "São Bento o Africano". Colocamos-lhe algumas perguntas sobre a sua longa experiência de missionário na Guiné-Bissau. Aqui vem as respostas.

- Podes fazer um balanço da tua vida missionária para nós? Como foi nestes 53 anos?

Fr. Ernesto: Foi uma experiência maravilhosa, desde o início. Eramos cinco frades em Cumura: Settímio, Marcos, Epifânio, Silvano e eu. Dois sacerdotes e tres irmãos leigos. Mais tarde, diante da carência de padres, o p. Settimio pediu-me para eu estudar teologia em vista da ordenação, que teve lugar a 28 de junho de 1982. Durante os primeiros anos de Cumura eu fui encarregado da carpintaria juntamente com o fr. Silvano, depois fui fazer um curso em Italia de mecânica (de 1971 a 1973) para tomar conta da oficina mecânica que foi inaugurada em dezembro de 1974. Como sacerdote, eu fui encarregado e trabalhei sobretudo nas comunidades de Cumura, Cumura-Papel e Prabis.

- Podes falar um pouco das condiçoes de vida durante os primeiros anos em Cumura?

Fr. Ernesto: Não havia tantas possibilidades. A nossa casa era verdadeiramente pobre: não havia luz, mas a vida fraterna era fantástica. Os mosquitos!... no tempo da chuva havia mosquitos por todo o lado, entravam mesmo debaixo dos mosquiteiros!
Por outro lado, a gente era muito acolhedora. Iamos a fazer catequese nas tabancas, o povo respondia muito bem. Dar catequese era um gosto, uma grande satisfação para o missionário. A gente respondia. Tínhamos também os internatos masculino e feminino: eram jovens das tabancas que o fr. Settímio tinha acolhido na missão para que podessem estudar e receber uma boa formação humana e cristã. Mas só havia o ensino básico, até à quarta classe.


- Uma última palavra para os nossos leitores?
- Fr. Ernesto: Se pudesse voltar atrás, começaria tudo de novo!

sábado, 13 de junho de 2020

Leigos franciscanos da OFS e jovens da JUFRA oferecem máscaras a marginalizados

Leigos e jovens do movimento franciscano, quer dizer OFS e JUFRA, não param as suas atividades nem mesmo neste tempo de Coronavirus. A sua última iniciativa foi a oferta de 207 máscaras a pessoas socialmente marginalizadas: doentes mentais, cegos e doentes num hospital do Estado.
A entrega teve lugar na quinta-feira passada em Quinhamel (centro para os doentes mentais e hospital de Estado) e em Bissau (centro "Bengala branca" para cegos).

Os diretores destes centros agradeceram muito.




Jovem de 22 anos morre por falta de oxigénio

 A diretora clínica do hospital de Cumura, nos arredores de Bissau, Jamila Bathy, lamentou a "morte evitável e desnecessária" de uma jovem de 22 anos por falta de oxigénio naquele estabelecimento hospitalar.
O hospital de Cumura, a cerca de 10 quilómetros de Bissau, é uma das unidades de saúde que recebe doentes infetados por covid-19, além do Hospital Nacional Simão Mendes, na capital guineense.
"Estamos de luto pela tua morte desnecessária e evitável. Pedimos desculpas por não te podermos dar o oxigénio como precisavas", escreveu Jamila Bathy na sua rede social, Facebook.
A médica especialista em medicina interna, formada pela Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, relatou ainda que a equipa do hospital de Cumura acabou por perder "uma luta" na tentativa de salvar a jovem infetada pela covid-19.
"Vimos a tua vontade de viver quando rapidamente te adaptaste ao ventilador não invasivo. Rapidamente colaboraste em tudo o que te pedimos. Vimos a tua angústia quando quiseste o oxigénio e não tivemos", escreveu.
A dout. Jamila com a sua equipa
Jamila Bathy postou na sua página de Facebook uma fotografia da equipa médica do hospital de Cumura, onde todos os elementos apareceram com as roupas de proteção ao covid-119.
"Uma semana de muita luta e guerra que hoje (quinta-feira) perdemos", escreveu na legenda da fotografia, publicada pela médica guineense para consolar a família da jovem e pedir forças para a equipa continuar o trabalho.
Nas explicações sobre os procedimentos aplicados para salvar a jovem, Jamila Bathy relata que "a oxigenoterapia foi intermitente" quando a doente necessitava dela de forma "contínua ininterrupta e a alto débito".
"Não queremos mais mortes desta natureza. Pedimos o básico para fazer o nosso trabalho", defendeu Jamila Bathy.
O hospital de Cumura pertence aos franciscanos menores ("padres de Cumura") que disponibilizaram grande parte do seu parque médico para apoiar as autoridades no combate a covid-19.
A falta de condições de trabalho tem sido relatada diariamente nas redes sociais e nas rádios por profissionais guineenses.
Fontes do hospital de Cumura, indicam que, com cerca de 30 mil euros, a unidade de produção de oxigénio, atualmente avariada, voltará a funcionar.
Um médico do Simão Mendes, principal de referência e de internamento de doentes com a covid-19, Almame Sissé disse à Lusa que têm medo de tocar nos doentes por falta de equipamentos de proteção.
"Hoje, quando um técnico quer fazer qualquer procedimento num doente, tem medo de tocar no doente. Todos os dias há técnicos a contaminarem-se", disse Sissé
Este médico afeto aos cuidados intensivos, mas que atualmente trabalha nos serviços da urgência, precisou que vários técnicos do Simão Mendes deixaram de comparecer no hospital por estarem infetados com a covid-19.
 Segundo o Centro de Operações de Emergência de Saúde, a Guiné-Bissau já registou desde março, quando foram detetados as primeiras infeções de covid-19 no país, 1.389 casos, entre os quais 12 vítimas mortais e 153 recuperados.Entre os países africanos que têm o português como língua oficial, a Guiné-Bissau lidera em número de infeções.

Fonte: TSF Portugal (https://www.tsf.pt)

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Jovem guineense faz os primeiros votos religiosos

Hoje à tarde, havia movimento na casa das irmãs marianitas, no bairro de Ajuda. O motivo era simples: uma jovem guineense estava para fazer a sua primeira profissão religiosa neste instituto: Esperança Manga.

Filha de Luís Manga (falecido) e de Ana Maria Mané, nasceu em Ingoré em 1997. Nesta pequena cidade ela recebeu os sacramentos da iniciação cristã e fez a sua caminhada vocacional a partir de 2011. Em 2015, depois de ter lido a história da congregação das irmãs marianitas, decidiu conhecê-las mais de perto. E foi assim que começou com o aspirantado e postulantado, em 2017. Um ano depois entrou no noviciado, onde aprofundou o carisma deste instituto.
A ir. Laura recebe os primeiros votos da ir. Esperança

A celebração de hoje, que ocorreu no pátio interno da casa das irmãs no bairro de Ajuda, contou com a presença de um pequeno número de pessoas (cerca de cinquenta). O celebrante principal foi o p. Celso Corbioli, OMI. Estavam presentes também os párocos de Ingoré (p. Jaquité) e do bairro de Ajuda (P. Elie) e o seu acompanhador espiritual, fr. Renato.

As irmãs marianitas (o seu nome oficial é "Instituto de S. Mariana de Jesus"), são uma congregação religiosa de origem latino-americana (Equador). Elas estão presentes na Guiné-Bissau desde 1992 com duas comunidades: Suzana e Bairro de Ajuda. A fundadora, beata Mercedes de Jesus Molina Ayala, viveu a maior parte da sua vida como leiga trabalhando ao lado de orfãs, camponeses, marginais e na educação cristã dos pobres. O instituto foi fundado em 1873, quando a madre Mercedes tinha 45 anos de idade. E' o primeiro instituto religioso equatoriano.

Fr. Renato, p. Celso, ir. Esperança, p. Elie e p. Jaquité









quinta-feira, 4 de junho de 2020

Para onde vai a Guiné-Bissau?

E' a grande pergunta que todo o mundo se faz, diante da "agonia" das instituiçoes: assembleia
A Assembleia Nacional Popular
nacional, governo, sistema sanitário, supremo tribunal. Não tenho medo de dizer que estamos indo para uma ditadura, embora - claro - seja difícil a admitir. Senão, vejamos.
O poder está nas mãos dos militares, que podem prender e torturar à vontade um deputado da nação e ninguém intervém para o defender; os mesmos podem ameaçar de morte outro deputado, só porque se recusa a alinhar-se com a bancada do presidente Sissoko. Mas onde estamos? para onde vamos?
O próprio "presidente", ilegitimo por ter tomado o poder com a força, viaja fora do país para "fazer controlo médico" em Paris, desprezando as regras de confinamento e de interdição de viajar que ele mesmo impôs aos seus concidadãos! Para onde vamos?
O mesmo presidente que insulta os magistrados do Supremo Tribunal acusando-os de "bandidos" só porque não estão do seu lado! Onde está a separação e a independência dos poderes?
E' evidente que estamos diante de ameaçasa graves à nossa democracia, que está a tornar-se cada vez mais uma autêntica ditadura.
O próximo passo será, com toda a probabilidade, a dissolução da Assembleia Nacional Popular, como já foi anunciado pelo próprio presidente, caso o Cipriano Cassamá nao consiga formar um novo governo até ao dia 18 de junho.
E' necessário que a sociedade civil, as instuitões, as Igrejas, despertem do sono e levantem a sua voz, antes que não seja tarde demais. O silêncio neste caso não serve a ninguém. Ou melhor, faz o jogo dos tiranos e prepotentes.