sábado, 13 de junho de 2020

Jovem de 22 anos morre por falta de oxigénio

 A diretora clínica do hospital de Cumura, nos arredores de Bissau, Jamila Bathy, lamentou a "morte evitável e desnecessária" de uma jovem de 22 anos por falta de oxigénio naquele estabelecimento hospitalar.
O hospital de Cumura, a cerca de 10 quilómetros de Bissau, é uma das unidades de saúde que recebe doentes infetados por covid-19, além do Hospital Nacional Simão Mendes, na capital guineense.
"Estamos de luto pela tua morte desnecessária e evitável. Pedimos desculpas por não te podermos dar o oxigénio como precisavas", escreveu Jamila Bathy na sua rede social, Facebook.
A médica especialista em medicina interna, formada pela Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, relatou ainda que a equipa do hospital de Cumura acabou por perder "uma luta" na tentativa de salvar a jovem infetada pela covid-19.
"Vimos a tua vontade de viver quando rapidamente te adaptaste ao ventilador não invasivo. Rapidamente colaboraste em tudo o que te pedimos. Vimos a tua angústia quando quiseste o oxigénio e não tivemos", escreveu.
A dout. Jamila com a sua equipa
Jamila Bathy postou na sua página de Facebook uma fotografia da equipa médica do hospital de Cumura, onde todos os elementos apareceram com as roupas de proteção ao covid-119.
"Uma semana de muita luta e guerra que hoje (quinta-feira) perdemos", escreveu na legenda da fotografia, publicada pela médica guineense para consolar a família da jovem e pedir forças para a equipa continuar o trabalho.
Nas explicações sobre os procedimentos aplicados para salvar a jovem, Jamila Bathy relata que "a oxigenoterapia foi intermitente" quando a doente necessitava dela de forma "contínua ininterrupta e a alto débito".
"Não queremos mais mortes desta natureza. Pedimos o básico para fazer o nosso trabalho", defendeu Jamila Bathy.
O hospital de Cumura pertence aos franciscanos menores ("padres de Cumura") que disponibilizaram grande parte do seu parque médico para apoiar as autoridades no combate a covid-19.
A falta de condições de trabalho tem sido relatada diariamente nas redes sociais e nas rádios por profissionais guineenses.
Fontes do hospital de Cumura, indicam que, com cerca de 30 mil euros, a unidade de produção de oxigénio, atualmente avariada, voltará a funcionar.
Um médico do Simão Mendes, principal de referência e de internamento de doentes com a covid-19, Almame Sissé disse à Lusa que têm medo de tocar nos doentes por falta de equipamentos de proteção.
"Hoje, quando um técnico quer fazer qualquer procedimento num doente, tem medo de tocar no doente. Todos os dias há técnicos a contaminarem-se", disse Sissé
Este médico afeto aos cuidados intensivos, mas que atualmente trabalha nos serviços da urgência, precisou que vários técnicos do Simão Mendes deixaram de comparecer no hospital por estarem infetados com a covid-19.
 Segundo o Centro de Operações de Emergência de Saúde, a Guiné-Bissau já registou desde março, quando foram detetados as primeiras infeções de covid-19 no país, 1.389 casos, entre os quais 12 vítimas mortais e 153 recuperados.Entre os países africanos que têm o português como língua oficial, a Guiné-Bissau lidera em número de infeções.

Fonte: TSF Portugal (https://www.tsf.pt)

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